A velha sensação do Grande Vazio voltou. A casa quieta. Os dias se passaram com a vã tentativa de escrever da direita para esquerda, a lápis para que o barulho do teclado do computador não incomodasse o hóspede para sempre ausente, quebrando grafites e mais grafites pelo peso do punho, com algumas anotações tomadas de autores que me tocam como Caio¹ me tocou quando tocou a campainha de minha casa e tomou conta do quarto de hóspedes e da casa e me fez companhia por meses que mesclaram sons de máquina de escrever, confissões de forno & fogão e os tais segredos de liquidificador que ele tanto cantava. Talvez a felicidade doméstica fosse uma geladeira cheia, um filme francês com pipoca, um domingo com preguiça, uma tempestade vista pela janela. Ainda sinto tudo aquilo que me tocou naquela noite em que Caio tocou a campainha: o cheiro de cigarro, cerveja, conhaque & sabonete. Ainda sinto sua falta. Ainda sinto que aqui é sua casa.²
¹Caio-Caio Fernando Abreu
²Vinicius Canhoto-A casa de Caio F.
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